Toda a biodiversidade do nosso planeta é muito importante, mas existem claramente determinados grupos de espécies e um pequeno número de ecossistemas particularmente ricos - os trópicos, que merecem especial atenção. Entre esses grupos estão os primatas não humanos - lémures, lóris, gálagos, társios, pequenos e grandes primatas. Estes animais podem ensinar-nos muito sobre a nossa espécie e evolução. Têm tido um papel importante em muitos tipos diferentes de investigação com vista a uma melhor compreensão da nossa saúde, do nosso comportamento, da nossa língua, e da nossa posição única no reino animal.
A investigação em primatas tem um valor intrínseco muito relevante para a investigação sobre a ecologia tropical.
Cerca de 90% de todos os primatas são encontrados nas florestas tropicais, os mais ricos e diversificados ecossistemas terrestres. Os primatas ocupam um papel importante nestes habitats como dispersores de sementes, predadores de sementes, e mesmo polinizadores. O conhecimento da sua importância ecológica nas florestas tropicais aumentou muito nos últimos anos. Infelizmente, as populações selvagens de primatas não humanos estão ameaçadas em todos os 92 países em que ocorrem, com alguns dos problemas mais graves nos países com mais diversidade, entre eles: Brasil, Colômbia, Madagáscar, Indonésia, China e Vietname. Os primatas são ameaçados pela destruição das florestas e de outros habitats naturais, pela caça para consumo e captura para exportação (que diminuiu consideravelmente nos últimos anos).
Quase metade das 250 espécies de primatas são consideradas uma preocupação de conservação pelo Grupo Especialista em Primatas da Comissão de Espécies para a Sobrevivência (SSC) da União Mundial da Conservação (IUCN), e uma em cinco espécies é classificada, ou como ameaçada ou criticamente em perigo, o que significa que, sem programas de protecção e conservação os primatas estariam extintos nas próximas duas décadas. No último século não se registou nenhuma extinção, o que é um excelente registo em comparação com outros grupos de vertebrados.
A fim de evitar a extinção de uma percentagem significativa dos nossos parentes primatas, uma variedade de acções são necessárias, sobretudo para obter mais protecção para os primatas e melhores informações. Ainda há lacunas em questões básicas de taxonomia e distribuição geográfica da maioria das espécies de primatas, e novos táxons continuam a ser determinados através de revisões taxonómicas de espécimes de museus ou pela descoberta no estado selvagem. Os exemplos mais marcantes das novas descobertas ao longo das últimas décadas têm sido em Madagáscar e no Brasil.
Em Madagáscar duas novas espécies distintas, Hapalemur aureus e Propithecus tattersalli, foram descobertas e descritas na segunda metade da década de 80, e uma terceira espécie, Microcebus myoxinus, foi descrita há mais de 100 anos atrás e posteriormente esquecida. Foi "redescoberta" em 1993 e é agora reconhecida como a espécie mais pequena de primatas existente. No Brasil o registo é ainda mais evidente, com cinco novas espécies a serem descobertas e descritas desde 1990 (Callithrix mauesi, C. nigriceps, C. saterei, Leontopithecus caissara, e Cebus kaapori). Para além destas descobertas, em quase todas as expedições obtêm-se novas informações significativas sobre distribuição, ecologia e estado de conservação.
Consequentemente, a investigação em primatas, em muitas das suas formas mais elementares, está ainda nos seus primórdios.
Fonte: Introdução do livro: The Pictoral Guide to the Living Primates.