sexta-feira, 16 de maio de 2008

Os Chimpanzés Conseguem Falar?

Os seres humanos podem ser os grandes comunicadores do mundo natural mas dificilmente somos ou seremos os únicos!
A grande maioria dos animais comunica através de sinais sexuais e agonísticos. As flores cortejam abelhas através de odores e cores, enquanto as bactérias podem decidir quando são suficientes no nosso organismo e começarem a pôr-nos doentes. Olhar para estes sistemas de comunicação simples fornece aos cientistas algumas pistas de como a nossa própria linguagem evoluiu. Não é de estranhar que os cientistas tenham focado o seu estudo nos nossos parentes mais próximos, os chimpanzés. Os primatologistas passaram anos a observá-los, em florestas africanas e em jardins zoológicos. E com isto viram e ouviram bastante. Os chimpanzés vaiam, gritam gritos de apoio, agitam ramos, batem palmas e tocam tambor nas árvores.

Durante algum tempo, os primatologistas prestaram mais atenção à expressão gestual dos chimpanzés do que à sua expressão facial. Os sons emitidos por chimpanzés pareceram conter um pouco mais do que respostas emocionais sem muito significado ou intenção. Mas os cientistas foram surpreendidos pela riqueza do vocabulário gestual utilizado pelos chimpanzés. Especialmente provocante, foi o facto de os chimpanzés usarem certos gestos só em certas situações – por exemplo, na tentativa de adquirir a atenção de outro chimpanzé, ou para brincar, ou o início de uma luta. O facto de os gestos não surgirem ao acaso indica que estes possuem algum significado.

Esta pesquisa ajudou a apoiar a teoria que a linguagem humana tem as suas raízes não no discurso, mas nos gestos. Os cientistas que favorecem esta teoria apontam para o facto de que os macacos têm neurónios especiais que traçam o movimento das mãos. Estes, chamados "neurónios espelho" podem ter dado aos macacos a capacidade mental necessária para reconhecer diferenças subtis entre diferentes gestos. Este sistema de comunicação poderá ter-se tornado mais complexo depois da separação dos nossos antepassados humanos dos restantes primatas, há cerca de 6 milhões de anos. Só depois este argumento torna-se-á válido, com a ligação do complexo circuito cerebral em humanos para a leitura de gestos, adquirindo a capacidade de retransmitir, em humanos, no processo do discurso .

Num novo estudo divulgado em Outubro de 2005 passado no jornal Current Biology, Katie Slocombe e Kaus Zuberbuhler, dois primatologistas da Universidade de St. Andrews na Escócia, investigaram uma determinada vocalização efectuada por chimpanzés quando encontravam comida, chamada "grunhido brusco". No jardim zoológico de Edimburgo, os cientistas alimentaram os chimpanzés com duas comidas diferentes - maçãs e pão - e registaram os sons que eles fizeram. Os chimpanzés mostraram preferência pelo pão e Slocombe e Zuberbuhler descobriram uma diferença correspondente nos grunhidos que eles fizeram para cada comida. Eles vocalizam muito alto quando encontram pão, mas observou-se que usam grunhidos mais baixos e mais barulhentos para as maçãs.

Para observar se os chimpanzés podem vocalizar a diferença, Slocombe e Zuberbuhler montaram uma experiência. Eles pregaram um par de tubos ocos nas paredes da cerca dos chimpanzés e carregaram-nos com quatro conteúdos. Cada dia, eles abriram os tubos com um puxão de uma corda, deixando cair os conteúdos num recipiente. Isto permitia que os chimpanzés saíssem de uma sala interna. Invariavelmente à frente da linha ia sempre um macho ansioso de 5 anos chamado LB. LB corria e descia por uma escada que dava acesso ao recipiente, sendo seguido por outros chimpanzés. O chimpanzé descobria então que só um dos oito conteúdos continha comida - maçãs ou fatias de pão. Mais ainda, um tubo só continha maçãs e outro pão.

Depois de darem aos chimpanzés seis semanas para aprenderem este padrão de respostas, Slocombe e Zuberbuhler alteraram a experiência. Agora eles registaram os grunhidos quando eles deixavam cair comida para o recipiente. Durante alguns dias, gravaram os grunhidos correspondentes à maçã e os do pão. Por fim, eles filmaram LB para ver se os sons produzidos alteravam o seu comportamento.

O que eles fizeram acabou por ter resultados. Primeiro, LB parava por poucos segundos na escada que dava acesso à sala da comida para ouvir os sons. Se ele ouvisse os grunhidos para o pão, ele iria levar mais tempo a observar os conteúdos que cairiam do tubo do pão. O mesmo se passava quando ele ouvia os grunhidos para as maçãs, despendendo mais tempo no tubo correspondente. Com este estudo Slocombe e Zuberbuhlers provaram que as vocalizações têm significado para os chimpanzés.

Isto não é para dizer que um grunhido alto significa, "Hey, aqui há pão!" Pode ser apenas um impulso espontâneo. Mas o chimpanzé LB foi “sintonizado” para grunhidos bem conhecidos, para perceber que comida deveria procurar. Slocombe e Zuberbuhler argumentaram que estes resultados chamam atenção para a questão da origem da linguagem.

Mesmo que Slocombe e Zuberbuhler estejam correctos, os “neurónios espelho” podem ter desempenhado um papel importante na evolução da comunicação. Eles poderiam ter fornecido o estímulo mental necessário para dar significado aos sons primários. Em primeiro lugar, os neurónios espelho são bons para representar acções - que, de um modo abstracto, é o que as orações fazem. E pode-se constatar que algumas regiões onde os macacos possuem os neurónios espelho correspondem a áreas do cérebro humano da linguagem gestual. Estes neurónios também estão ligados à habilidade de compreendermos as intenções dos outros seres humanos - algo que os chimpanzés podem fazer abertamente e em absoluto.


Publicada dia 21 de Fevereiro de 2008

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