segunda-feira, 7 de abril de 2008

Copiar os “jumping genes” dos macacos pode levar a um novo tratamento para o vírus HIV

Cientistas da UCL (University College London) deram um passo significativo para a compreensão: de como o retrovírus HIV consegue “saltar” entre espécies e os mecanismos biológicos por de trás dos “jumping genes” que tornam alguns macacos imunes. Este conhecimento vai ser usado para desenvolver um tratamento genético para o HIV/AIDS em humanos.

A equipa internacional de investigadores, coordenada pelo Professor Greg Towers, UCL Infecção e Imunidade, fundada pela Wellcome Trust, identificou uma combinação de genes numa espécie de primatas que os protege contra retrovírus – uma família particular de vírus oportunistas que integra o genoma hospedeiro e replica parte do ADN da célula. Esta descoberta foi publicada no PNAS (Proceedings oh the National Academy os Sciences).

O Professor Towers explica: “O HIV afecta aproximadamente 40 milhões de pessoas em todo o mundo. Esta pesquisa mostrou que o HIV apareceu na população humana através de um retrovírus de chimpanzé chamado SIV, no início do século XX. Para um vírus passar com sucesso a barreira da espécie e “saltar” para uma nova, primeiro tem de ultrapassar o sistema imune inato do novo hospedeiro, mediado por uma combinação de genes e proteínas. Provou-se que o gene TRIM5 protege certas espécies contra os retrovírus – mas infelizmente o gene TRIM5 humano não protege contra a infecção por HIV.”

A equipa descobriu que uma espécie de macaco asiáticos chamada Rhesus Macaques possui um sofisticado “arsenal antiviral” que consegue imunizá-los contra os retrovírus. Através de uma análise detalhada desta espécie, eles conseguiram demonstrar que em alguns macacos outro gene chamado Ciclofilina agregou-se ao gene TRIM5, originando a fusão TRIMCyp.

O Dr. Sam Wilson, o primeiro autor do artigo científico, disse: “A ciclofilina é muito eficaz na adesão de vírus. Fundindo o gene ciclofilina ao TRIM5, temos como resultado um gene capaz de “agarrar” e destruir vírus. É a segunda vez que esta fusão foi identificada – o gene TRIMCyp também existe em Macacos Coruja Sul-Americanos e, até agora, pensava-se que era exclusivo desta espécie.

“Esta nova investigação mostra que o TRIMCyp evoluiu independentemente em duas espécies diferentes – é como um raio acertar duas vezes no mesmo lugar. É um exemplo claro de evolução convergente, em que os organismos evoluem independentemente características semelhantes, em necessidade de se adaptarem a ambientes semelhantes. Também é de destacar a pressão selectiva que os vírus como o HIV podem aplicar na evolução.

Além disso, o Professor Greg Towers explicou: “a descoberta é um exemplo inelutável de como os “jumping genes” podem misturar a maquilhagem genética de um organismo, gerando novos genes úteis, e isto é uma possibilidade excitante que abre caminho a novos tratamentos para o HIV.

Cerca de 25% dos Macacos Rhesus possuem o gene TRIM5 e o TRIMCyp, expandindo muito o seu arsenal antiviral. Os outros possuem imunidade, apenas baseada no TRIM5, que os protege contra diferentes combinações de vírus. Parece que este gene esta a evoluir para proteger espécies individuais contra uma variedade de diferentes sequências de vírus.

O Professor Towers e a sua equipa esperam agora desenvolver o TRIMCyp humano que bloqueia a infecção causada por HIV, através da fusão artificial entre o gene humano ciclofilina e o TRIM5 humano. O Professor Towers disse: ”Nós conseguimos introduzir os TRIMCyp dentro das células estaminais, usando tecnologia de tratamento por genes e assim sendo as células estaminais podem repovoar o paciente com células sanguíneas que são imunes ao HIV. Este trabalho, já encaminhado, pode oferecer uma possibilidade real para novos tratamentos do HIV/AIDS.”

Publicada dia 18 de Fevereiro de 2008